Seu nome não será mais Jacó, e sim Israel, pois você lutou com Deus e com os homens e prevaleceu (Gênesis 32.28 – NAA).
Vinte anos após ter fugido, Jacó estava voltando para sua terra e sua parentela (Gênesis 31.3), prestes a reencontrar seu irmão Esaú, de quem fugira após enganá-lo. Sim, seu passado botava medo, muito medo, pois ele não sabia como Esaú o receberia. Tentando se precaver, enviou presentes e dividiu sua família em grupos, mas, no fundo, sabia que nada disso garantiria sua segurança. Naquela noite, atravessou o vau de Jaboque e permaneceu sozinho. Curiosidade: “vau” é o trecho do rio onde se pode atravessar a pé. Simboliza o local onde atravessamos as barreiras com nossos próprios planos. Mas, dessa vez, tudo seria diferente. Ali no vau teve o encontro que mudaria tudo para sempre.
O encontro foi intenso. Jacó sempre lutou por aquilo que queria conquistar: ainda no ventre de sua mãe, segurou o calcanhar de Esaú ao nascer; comprou a primogenitura com um prato de lentilhas; enganou o pai para receber a bênção; trabalhou anos para Labão para conseguir esposa. Ao longo da vida, usou astúcia para conquistar o que desejava. Mas agora, diante de Deus, ele não podia vencer com sua própria força. Quando o anjo tocou sua coxa (Oseias 12.4), percebeu sua fragilidade. Ferido e quebrado, ele se agarrou ao anjo e declarou: Não te deixarei ir, se me não abençoares (Gênesis 32.26). Naquele momento, ele compreendeu que a verdadeira bênção não vinha de sua esperteza, mas de sua rendição a Deus. Esse encontro não foi um evento isolado na vida de Jacó. Anos antes, enquanto fugia de Esaú, ele havia tido uma experiência sobrenatural em Betel (Gênesis 28.10-22), quando viu a escada que ligava a terra ao céu e ouviu a voz de Deus. Naquele momento, recebeu promessas, mas agora, no vau de Jaboque, ele não apenas ouve, mas interage diretamente com o Senhor. Sua transformação está sendo selada. Deus sabe como agir ao longo da nossa vida em processos intensos e intencionais.
O encontro foi transformador. A resposta divina não foi apenas uma bênção comum. Deus mudou o nome de Jacó, que significava o enganador, para Israel, que significa aquele que luta com Deus (Gênesis 32.28). Isso não quer dizer que Jacó venceu Deus, mas que foi transformado ao perseverar em busca de sua presença. De enganador, ele se tornou um príncipe de Deus. De manipulador, transformou-se em alguém quebrantado. De uma pessoa confiante em sua própria força, saiu consciente de sua fraqueza e dependência. Seu novo nome representava uma nova identidade e um novo propósito. Jacó entrou no vau de Jaboque como um homem tentando controlar seu futuro, mas saiu dali como Israel, um homem que tinha seu futuro guiado pelo Senhor. Aprendeu que o poder de Deus se aperfeiçoa em nossa fraqueza (2 Coríntios 12.9), ou no reconhecimento dela. Seu novo nome se tornaria o nome de toda uma nação.
O encontro foi inesquecível. Após essa experiência, Jacó saiu mancando. O toque de Deus deixou uma marca permanente. Ele jamais andaria da mesma forma novamente. Os passos, antes falsamente seguros em si mesmos, passam a ser firmes no Senhor. Trocadilhos à parte, saiu mancando para não mais dar mancadas. Essa é uma poderosa ilustração de como encontros genuínos com Deus nos transformam e nos fazem caminhar de maneira diferente. O mancar de Jacó simboliza sua nova dependência de Deus. Ele não precisava mais confiar em seus próprios planos, pois agora carregava a marca de um homem cuja vida fora redefinida pelo Senhor. Jacó deu àquele lugar o nome de Peniel, que significa “face de Deus”, pois viu Deus face a face e sua vida foi salva (Gênesis 32.30). A história que se seguiu foi o surpreendente encontro com seu irmão Esaú que aconteceu aos abraços, beijos e choro (Gênesis 33.4). Deus agiu poderosamente. Simplesmente memorável!
Todos nós enfrentamos nossos medos do passado nos “vaus de Jaboque”, momentos em que somos levados ao limite e precisamos decidir se continuaremos tentando controlar tudo ou se nos renderemos a Deus. Existe algum medo que o paralisa hoje? Está tentando resolver tudo com sua própria força? O Senhor deseja transformar nossa identidade e nosso destino. Isso exige humildade e perseverança. Assim como Jacó, precisamos nos agarrar a Deus e buscar nele a verdadeira bênção para que o vau de Jaboque vire nosso Peniel.
Pr. Rodolfo Montosa