Isaías 6.1-9a
No ano da morte do rei Uzias, Isaías teve uma visão que mudou para sempre sua vida. Ele viu o Senhor assentado num alto e sublime trono; as abas de sua veste enchiam o templo. Ao redor, serafins proclamavam: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória (v 3). O ambiente celestial estava tomado pela reverência, pela pureza e pela glória de Deus. Tudo naquele cenário apontava para a santidade. Vamos ver o que aconteceu com seus lábios.
Na presença de Deus, nasce a consciência que ele tem lábios impuros (v 5). Ao contemplar tal visão, Isaías não se vangloria; ele se vê pequeno e indigno. Sua primeira confissão é: Sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de lábios impuros. Diante de um Deus santo, o profeta reconhece que sua fala – expressão do coração – não condiz com a pureza de quem está na presença de Deus. Diante da glória do Senhor não cabem palavras torpes (Efésios 4.29; 5.4), falatórios inúteis e mexericos (1Timóteo 6.20; Tito 3.9; Levítico 19.16; Provérbios 20.19; 11.13), murmuração (1Coríntios 10.10; Filipenses 2.14), arrogâncias e adulações (Judas 1.16).
Da contrição do coração, nasce a provisão de Deus para lábios transformados (vv 6-7). Deus, porém, não o deixa preso à condenação. Um serafim voa até ele com uma brasa viva, tocando-lhe a boca e declarando: A sua culpa foi removida, e o seu pecado perdoado. Os lábios que antes eram impuros agora são transformados. A purificação não vem de esforços humanos, mas do próprio Deus, que age com graça e poder (Salmos 51.10; 1 João 1.9). A brasa do altar, símbolo do sacrifício, aponta para Cristo, cuja cruz limpa não apenas o coração, mas também a boca daqueles que nele creem. Quem é tocado pelo perdão de Deus passa a falar diferente: suas palavras tornam-se cheias de graça (Colossenses 4.6), verdade (Efésios 4.15) e vida (Provérbios 18.21).
Da transformação, nasce o propósito de lábios poderosos (vv 8-9a). Depois de purificado, Isaías ouve a voz do Senhor perguntando: Quem enviarei? Quem irá por nós? Ele se oferece prontamente: “Eis-me aqui. Envia-me!”. Então o Senhor lhe diz: “Vá e diga a este povo…”. Os lábios que antes eram indignos agora carregam a mensagem do próprio Deus. Quem experimenta o toque purificador não guarda silêncio – fala de Cristo (2 Coríntios 4.13), anuncia as virtudes de Deus (1 Pedro 2.9) e proclama o evangelho com ousadia (Atos 4.29-31). Quando santificados, nossos lábios não apenas transmitem palavras, mas liberam vida, consolo e direção; tornam-se instrumentos poderosos nas mãos do Senhor para transformar realidades e destinos.
O caminho é o mesmo para nós: reconhecer a impureza, permitir que Deus transforme, e colocar a boca e as palavras a serviço do seu reino. Hoje, podemos consagrar nossos lábios ao Senhor, para que cada palavra seja temperada com graça, marcada pela verdade e refletindo a santidade daquele que nos salvou. Pertinho de Deus, pertinho no falar.
Pr. Rodolfo Montosa


