[…] o que vimos e ouvimos anunciamos também a vocês, para que também vocês tenham comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho, Jesus Cristo […] Se andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros […] (trecho de 1 João 1.1-7 – NAA).
Apesar de João transparecer em seus escritos um jeito dócil e acolhedor de ser nos relacionamentos, nem sempre foi assim. Além de ele e seu irmão Tiago terem sido chamados por Jesus de Boanerges, que quer dizer filhos do trovão (Marcos 3.17), Lucas registra dois episódios que mostram sua dificuldade em se relacionar com gente diferente (Lucas 9.49 e 54). Amadureceu na caminhada e ficou conhecido como o apóstolo do amor. Ensinou com muita propriedade a respeito da comunhão reservada ao povo de Deus. No início de sua primeira carta, pode-se notar três movimentos desse ensino.
Deus é comunhão: O que vimos e ouvimos anunciamos. Quando olhamos para o Pai, o Filho e o Espírito Santo, vemos comunhão e comunidade de iguais, onde partilham tudo o que são e têm, ouvimos o som da harmonia de cada um vivendo com e para os outros em amor que se dá a si mesmo, cada um livre não do outro, mas para o outro. João testemunhou as íntimas orações de Jesus ao Pai, e como o Espírito Santo agiu em profunda harmonia com o Filho e o Pai (João 16.13-15). Nas palavras de João de Damasco – teólogo grego do oitavo século – testemunhamos a pericorese: a Trindade como três dançarinos, de mãos dadas, dançando juntos em alegre liberdade. Definitivamente, comunhão é essência de Deus.
Deus nos chama à comunhão consigo: Nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho. Aquele que é comunhão perfeita nos chama para sua íntima comunhão. Jesus é prova evidente disso. Nos dias que viveu entre nós, teve muita comunhão à mesa das refeições (Ex.: João 2.1-2; 13; 21.9-10), usando desses momentos para conhecer e tornar-se conhecido das pessoas e ter profundas conversas de transformação. Teve, também, muita comunhão no caminho (Ex.: Marcos 8.27; 9.34; Lucas 12.58), aproveitando as oportunidades para a intimidade, para auscultar o coração de seus amigos, para perguntar, ouvir, contar. Definitivamente, somos convidados à comunhão permanente com Deus.
Deus nos inspira à comunhão uns com os outros: Mantemos comunhão uns com os outros. Em seguida a termos comunhão com ele, é natural mantermos comunhão uns com os outros. Comunhão com Deus influencia comunhão com outras pessoas. Como isso acontece? Segundo João, andando na luz. Andar nas trevas envolve ocultar, omitir, mentir, esconder-se. Como andar dessa maneira poderia conduzir à comunhão uns com os outros? Nunca! Andar na luz envolve nossa transparência, nosso compromisso com o que é verdadeiro, nosso desejo de sermos autênticos, nossa coragem em apresentarmos nossas vulnerabilidades. Definitivamente, comunhão é fruto do caráter do Senhor que flui em nossa vida.
A comunhão de Deus é fonte de nossa comunhão com Deus que inspira comunhão uns com os outros. Quer seja na família, nos relacionamentos pessoais, nas células (pequenos grupos), a verdadeira Igreja tem comunhão. Assim como João foi transformado de uma pessoa agitada e sectarista em alguém acolhedor e amoroso, vamos nos deixar sermos transformados para vivermos uma vida em comunhão.
Por Pr. Rodolfo Montosa