Todo o povo que estava no portão e os anciãos disseram: – Somos testemunhas. E disseram a Boaz: – Que o Senhor faça a esta mulher, que está entrando na sua família, como fez a Raquel e Lia, que edificaram a casa de Israel. E que você, Boaz, seja um homem poderoso em Efrata, e que o seu nome se torne famoso em Belém. Que, com os filhos que o Senhor lhe der dessa jovem, a sua casa seja como a de Perez, o filho que Tamar deu a Judá (Rute 4.11-12 – NAA).
O cenário era trágico: tendo se mudado para a terra de Moabe por causa da grande escassez, Noemi (doçura) ficou viúva de seu marido Elimeleque (Deus é Rei). Seus dois filhos Quiliom (fraqueza, que quebra à toa) e Malom (moléstia, doença), casados com as moabitas Orfa (costas) e Rute (amizade fiel) morreram também. Orfa retornou para sua família, enquanto Rute foi com Noemi para Israel. Em profunda tristeza, Noemi (doçura) pede para ser chamada de Mara (amargura). Do marido herdou a dívida, cuja garantia era a terra da família. Nesse contexto, Rute, por casualidade (Rt 2.3), conhece Boaz (forte) e gera um grande impacto nesse homem que faz de tudo para se casar com essa mulher. Assim, Deus abençoou o novo casal dando-lhe descendência, resgatando essa linda história. As palavras do povo (Rt 4.11-12) soam como proféticas da ação de Deus sobre a mulher, o homem e sua descendência.
A ação de Deus sobre a mulher (o Senhor faça a esta mulher) pode ser percebida ao longo de toda a sua história. Rute foi impactada pela doçura de sua sogra Noemi, mas não se deixou influenciar por sua amargura. Encorajada, saiu ao campo para colher espigas (Rt 2.2). Sua reputação espalhou-se entre o povo de Israel, levando Boaz a dizer: Já me contaram tudo o que você fez pela sua sogra, depois que você perdeu o marido (Rt 2.11a – NAA). Em todo o tempo, Rute continuou morando com a sua sogra (Rt 2.23) e fazendo tudo conforme o que a sua sogra lhe havia ordenado (Rt 3.6). A ação de Deus sobre seu coração fiel e submisso tornou-se uma ação de Deus sobre seu casamento e descendência, cumprindo-se a palavra de bênção que recebeu: O Senhor lhe pague pelo bem que você fez. Que você receba uma grande recompensa do Senhor, Deus de Israel, sob cujas asas você veio buscar refúgio (Rt 2.12).
A ação de Deus sobre o homem (que você, Boaz, seja um homem poderoso) foi poderosa, pois fez dele o resgatador da família (Rt 3.12). Para entender melhor, a lei assegurava que, no ano do jubileu, essas terras entregues pela dívida retornariam ao antigo proprietário. Mas Noemi somente poderia vender essas terras para quitar suas dívidas a um parente próximo. Sendo solteiro, Boaz deveria tomar Rute por esposa para que o primeiro filho do casal se tornasse herdeiro. Agindo assim, resgataria por completo a família à terra e à alegria. Foi o que aconteceu. Apesar de haver um outro parente mais próximo que poderia resgatá-las, Deus tinha preparado Boaz para redimir essa família. Não somente era homem abastado com condições de quitar as dívidas das viúvas, mas teve um olhar de amor e misericórdia. Após confirmar publicamente a desistência do outro parente (Rt 3.12; 4.4-6), Boaz pagou o preço, resgatou a terra, tomou Rute por esposa e tiveram um filho que foi a alegria renovada de Noemi. Todo o povo ficou feliz com a remissão dessas mulheres.
A ação de Deus sobre a descendência (com os filhos que o Senhor lhe der) estendeu-se por muitas gerações nessa abençoada genealogia que incluiu o rei Davi, bisneto, e, muito adiante, Jesus. Isso mesmo, essa linda história de resgate aponta para a obra restauradora de Cristo. O primeiro parente não podia resgatar, assim como a Lei jamais poderia nos resgatar. Boaz era varão valente e poderoso (Rt 2.1); Jesus tem todo poder e autoridade (Mt 28.18). Boaz era natural de Belém (Rt 2.4) da tribo e Judá; Jesus, também natural de Belém (Mt 2.1), tornou-se o Leão da tribo de Judá (Ap 5.5). O coração de Boaz foi cheio de compaixão pela moça pobre e sua sogra que precisavam de auxílio (Rt 2.8-15); Jesus moveu-se por íntima compaixão pelo seu povo (Mc 8.2). Boaz pagou o resgate com seus recursos (Rt 4.9); Jesus pagou com seu próprio sangue (1 Co 6.20). Boaz tornou-se remidor de Rute tomando-a como esposa (Rt 4.13); Jesus tornou a igreja sua própria noiva e esposa (Ap 21.2, 9; 22.17). A ação de Deus estendeu-se até nós nos dias de hoje.
Não importa quão devastada esteja nossa história familiar, Jesus é aquele que tem poder de resgatá-la em seu significado e propósito. Vamos deixar com que ele opere livremente dentro de nós para que não haja impedimentos de sua operação ao nosso redor.
Rodolfo Montosa