Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus (1 Pedro 4.10).
A lógica em curso neste mundo é que serve quem está por baixo, e é servido aquele mais importante. Não é à toa que este mundo funciona tão mal, tem tanta injustiça e tantas pessoas infelizes. Pedro apresenta três verdades que devem ser conhecidas e reconhecidas para uma vida de mais qualidade.
É verdade que todos temos necessidades (Servi uns aos outros). A variedade delas é muito grande. Temos necessidades espirituais, emocionais e físicas, em diferentes intensidades e momentos da vida. Podemos ser acometidos de cansaço, sofrer com enfermidades, passar por dificuldades em relacionamentos, lutas na área financeira, enfrentar lutas judiciais ou tantas outras incontáveis situações que passamos. Deus sabe e se importa com isso!
Essa verdade me faz lembrar da conversa entre dois amigos. Conta-se de uma pessoa que se mudou para outro país. Esse país era feito de pessoas muito generosas e educadas. Logo de início, um de seus novos colegas ofereceu- se para dar uma carona toda manhã. Chegavam cedo na empresa e seu amigo estacionava o carro bem longe da porta de entrada. Eram duas mil vagas no estacionamento. Demoravam algum tempo caminhando naquele grande estacionamento vazio. Nos primeiros dias, ele não disse nada. Até que chegou um dia que perguntou: Você tem lugar demarcado para estacionar aqui? Notei que chegamos bem cedo, o estacionamento sempre vazio, e você deixa o carro lá no final. Seu colega logo respondeu, simples assim: É que chegamos cedo, então temos tempo de caminhar. Quem chegar mais tarde já vai estar bem atrasado, melhor que fique mais perto da porta, você não acha? Desafio: equilibrar as minhas com as suas necessidades.
É verdade também que todos temos dons (cada um conforme o dom que recebeu, multiforme graça). A variedade é igualmente grande. Da palavra graça (do grego, charis) deriva a palavra dom (do grego, charisma). Quem recebe charisma recebe charis de Deus, por causa da charis de Deus. Quando recebemos graça de Deus, nos tornamos depósitos da graça que só serve para ser transmitida aos outros. Alguns têm dons de palavra. Outros de serviço. As listas bíblicas são variadas e não exaustivas.
Essa verdade me fez lembrar da conversa entre camelos. O camelo filhote perguntou: Mãe, por que os camelos têm corcovas? Respondeu a mãe: Bem, meu filhinho, nós somos animais do deserto, precisamos das corcovas para reservar água e por isso mesmo somos conhecidos e apreciados, por nossa grande capacidade de sobreviver sem água por vários dias. Continuou o bebê: Uau! Mãe, que legal! E por que as nossas pernas são tão longas e as nossas patas arredondadas? Disse a mãe: Querido, elas são assim para que possamos caminhar sem muito esforço no deserto. Com essas pernas longas podemos nos movimentar melhor na areia do que qualquer outro bicho! Impressionado, o filhote exclamou: Uau! Mãe, que legal! E os nossos cílios, por que são tão longos? A mãe respondeu, orgulhosa: Nossos cílios longos e grossos são como uma capa protetora para os olhos. Eles nos ajudam na proteção dos olhos quando atingidos pela areia e pelo vento do deserto. Depois de um tempo em silêncio, o filhote finalmente perguntou: Mãe, se a nossa corcova é para armazenar água para cruzar o deserto, as pernas para caminhar pelo deserto, e os cílios são para proteger os olhos do deserto, o que é que nós estamos fazendo aqui no zoológico? Desafio: desenterrar talentos que Deus nos deu.
É verdade também que todos tomamos a decisão de servir (como bons despenseiros da multiforme graça de Deus). Está debaixo de nosso campo de decisão a liberação dos dons que temos recebido de Deus para serviço do outro. Para que serve o dom se não for para entrar em operação? As águas do Mar Morto não têm saída. Por essa razão, devido à elevada temperatura, elas evaporam, deixando uma grande concentração de sal depositada. Sua salinidade é a mais elevada da terra, sendo dez vezes superior aos demais oceanos. Qualquer peixe que seja transportado pelo Rio Jordão morre imediatamente, assim que desagua nesse lago de água salgada. Quando não há saída, a vida não se sustenta.
Essa verdade me faz lembrar da conversa do filho com sua mãe. Um menino que se apresentou para sua mãe com uma lista de serviços que ele havia feito: grama cortada, cama arrumada, carro lavado, cachorro cuidado etc. Obviamente, ao lado de cada serviço, ele apresentava um valor a receber pelo que tinha feito. Amorosamente, a mãe pegou outro papel em branco e começou a relacionar alguns dos serviços que havia feito por ele: nove meses de gestação, amamentação, fraldas trocadas, noites de plantão etc. Imagine o tamanho dessa lista. Mas, ao lado de cada serviço, ela apresentou que não havia qualquer valor a receber, pois tudo havia sido feito com amor. Imediatamente os olhos do menino ficaram embargados e ele entendeu que servir com amor traz alegria e grande recompensa. Abraçou e beijou sua mãe como nunca. Desafio: dispor nossos dons a serviço gratuito do outro.
Comunidade cristã é vida de serviço. Nosso maior Mestre, Jesus, declarou não ter vindo para ser servido, mas para servir (Marcos 10.45). Jesus traz um ensino não somente com palavras, mas com sua própria vida. Ele é sério e muito determinado quando trata desse assunto, o serviço. Sua palavra aos discípulos não soa como sugestiva, mas como ordem a ser cumprida. Como ele é Senhor, pode ordenar. Ordena e manda com a autoridade de quem vive. Essa é a lógica do servir: se todos servirem, todos serão servidos. Não é difícil imaginar a revolução na sociedade se todos tivessem a atitude de servir o outro. O ensino de Jesus, portanto, é revolucionário.
Que bom seria um país de servos, como na ilustração do estacionamento; um povo liberto para o exercício pleno de seus dons, como na ilustração dos camelos; e pessoas amorosas, que servem generosamente, pois sabem o quanto receberam de serviço de Jesus, como a conversa do filho com sua mãe. Posso, entretanto, começar uma revolução silenciosa. Minha vontade natural é ser servido. Contudo, desejar isso me leva à escravidão e à infelicidade. Jesus viveu o padrão do reino de Deus servindo na prática. Em Cristo, posso decidir seguir esse novo padrão. Devo servir e ensinar esse princípio aos meus irmãos e irmãs. Mas somente em Cristo, no poder do Espírito. Imagine uma família que serve, uma igreja que serve, uma comunidade que serve. Esse é um projeto de Deus.
Certa vez, Abraham Lincoln disse: “Quem não vive para servir não serve para viver”. No ambiente onde todos servem, todos ficarão supridos e satisfeitos. Serviço é um princípio do reino de Deus, pois faz parte do caráter de Deus. Vamos, então, ocupar nosso lugar no Corpo de Cristo, servindo-nos uns aos outros, para que todos sejam supridos no Senhor.
Pr. Rodolfo Montosa