Para que este desperdício de perfume? (trecho de Marcos 14.1-11)
Já teve a sensação de estar desperdiçando tempo, dinheiro, energia? Pois bem, muita gente tem esse claro sentimento. Mas, para entendermos melhor o que se passa, é necessário definir com maior clareza o que seja desperdício. Segundo dicionários, desperdício é despesa inútil e censurável; esbanjamento; gasto em excesso; perda. Desperdiça aquele que é perdulário, gastador, pródigo. Desperdiça também o negligente, descuidado, preguiçoso. O conceito de desperdício está em lançar o que vale sobre o que não tem valor. Aqui surge o ponto principal: o que tem valor para uma pessoa difere de outra. Damos maior valor ao que realmente amamos. Por exemplo, quando vemos alguém gastando tempo, dinheiro ou energia com algo que desprezamos, dizemos que aquela pessoa está desperdiçando. Já quando alguém faz algo que valorizamos, nossas palavras serão de elogio. Nessa perspectiva, o trecho lido acima mostra personagens com amores diferentes.
O amor dos indignados tornou-se bem claro: o perfume valia mais do que Jesus, por isso chamaram o gesto de desperdício. Diz o texto que ficaram indignados e murmuraram contra a mulher. Ficaram com muita raiva diante da extravagante oferta do perfume que valia um ano de salário. Não entendiam a linguagem de amor da mulher. Definitivamente, o mundo não tem problemas com a devoção moderada. Falam mal da devoção incontestável: diminuíram a mulher, diminuíram a oferta, diminuíram Jesus. Segundo o relato de João, a pessoa que falou a frase do desperdício foi Judas, e disse isso não porque se preocupava com os pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa do dinheiro, tirava o que era colocado nela (João 12.4-6). Puxou a fila do escárnio, da difamação, da detratação. Judas enxergava Jesus como um meio e não como um fim. Amava, sim, o dinheiro. Lançou seu coração sobre o que não tem valor.
O amor da mulher foi evidente: Jesus valia mais do que o perfume, por isso não hesitou em derramar sobre a cabeça do Mestre o óleo precioso. Segundo o relato de João, a mulher era Maria, irmã de Lázaro e Marta (João 12.1-3) e ela fez isso antes de começar a semana da Paixão de Cristo. Enxergou Jesus como um fim e não como um meio. Ela não era fanática, mas apaixonada. Não estava cega, mas tinha olhos abertos. Não era obcecada, mas determinada. Estava acostumada a escolher a melhor parte assentando-se aos pés do Mestre para ouvir seu ensino (Lucas 10.38-42), e muito grata pela ressurreição de seu irmão (João 11.44). Maria foi aceita por Jesus, protegida contra a hostilidade e elogiada pelas gerações vindouras. Não buscava isso. Simplesmente foi uma adoradora apaixonada. Amava, sim, a Jesus. Lançou seu coração sobre o que mais tem valor.
O amor de Jesus foi incomparável: o perfume derramado anunciou sua morte, ungiu seu corpo antecipadamente para a sepultura. Jesus tinha plena consciência daquele gesto profético que anunciava que o mais valioso perfume do universo seria derramado. Jesus é o perfume que vale mais que toda a criação de todo o Universo somada na história. Ao entregar sua vida por nós, estaria Jesus desperdiçando? Na visão do Pai, do Filho e do Espírito Santo, não! Jesus derramou-se por nós por nos considerar em elevado valor, alta estima, profundo amor. Impressionante isso! Jesus não considerou sua morte um desperdício, mas um ganho para a eternidade. Jesus, sim, nos amou. Lançou seu coração sobre a nossa vida.
E aí, quem desperdiçou? Desperdiçou quem amou o que não tem valor. Judas amou o que não tinha valor, Maria amou quem tem todo o valor, e Jesus nos amou, pois nos dá grande valor. Nossa vida é um perfume que ganha valor somente quando se derrama sobre Jesus. Não desperdice sua vida, ame a Jesus!
Pr. Rodolfo Montosa