Três dias depois, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas. E todos os que ouviam o menino se admiravam muito da sua inteligência e das suas respostas. […] Não sabiam que eu tinha de estar na casa de meu Pai? Não compreenderam, porém, as palavras que lhes disse. E voltou com eles para Nazaré e era submisso a eles (Lucas 2.46-51 – NAA).
Jesus tinha apenas doze anos de idade. Em obediência às Escrituras, seus pais o levaram para adorar a Deus em Jerusalém. Um judeu nessa idade já tinha sido exposto ao pentateuco. Alguns mais dedicados já tinham decorado longos trechos como tarefa preparatória para participar dos cultos públicos e dos jejuns. Mas, certamente, ninguém trouxe tanto impacto como Jesus a ponto de sentar-se entre mestres e doutores com tão pouca idade. Seria como um aluno do ensino fundamental discutindo física com Einstein. Vamos entender melhor seu processo de aprendizagem.
Jesus tem prazer em se relacionar (assentado no meio dos doutores). Mesmo esquecido por seus pais, em vez de ficar rodando pela cidade, ou até chorando em algum canto, buscou comunhão verdadeira, conversas agradáveis até com pessoas muito mais velhas e improváveis de convívio. Jesus sabe que o processo de aprendizagem toma início no relacionamento com os mestres, aqueles que já estão há mais tempo na caminhada. Jesus tem inteligência interpessoal e quer nos ensinar isso.
Jesus é ouvinte ativo (ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas … se admiravam muito da sua inteligência e das suas respostas). Ouvia, perguntava e respondia. Sua capacidade de ouvir e observar era muito aguçada, como depois vai se confirmar em sua vida adulta. Ouvia as palavras ditas, mas também as que ficavam nas entrelinhas. Ouvia com seus ouvidos, mas também percebia com seus olhos refinados os movimentos e micromovimentos do rosto e mãos de seus interlocutores, sentia o outro de maneira intensa e completa. Jesus tem inteligência emocional e quer nos ensinar isso. O método de perguntas e respostas era comum entre os rabinos e muitos mestres do antigo oriente. Fazia perguntas abertas, perguntas surpreendentes, perguntas desconcertantes, perguntas coerentes com as Escrituras, perguntas transformadoras. Sua capacidade de fazer perguntas o acompanharia em sua vida adulta. Jesus tem inteligência linguística e quer nos ensinar isso. Jesus não nasceu em pecado, logo seu organismo tinha um funcionamento perfeito. Suas capacidades cerebrais eram plenas de um homem sem pecado. Seu Q.I. era superior. Ninguém conseguia sair-se tão bem em responder perguntas embaraçosas. Jesus tem inteligência lógica e quer nos ensinar isso.
Jesus é focado e submisso (me cumpria estar na casa de meu Pai … era-lhes submisso). Seu coração já queimava por fazer a vontade do Pai. Daí ter afirmado com tanta categoria que devia estar na casa do Pai. Seu coração já apontava para sua maior vocação e chamado. Sua comida era fazer a vontade do Pai. Nada o desviaria do foco de cumprir integralmente sua missão. Jesus tem inteligência de decisão sobre prioridades e quer nos ensinar isso. A partir do seu décimo segundo ano seria iniciado à vida de adulto, iniciando suas responsabilidades seguindo os passos do negócio do seu pai, tanto como filho de José, o carpinteiro, quanto como Filho do Pai celestial. Daí a expressão de que Jesus era obediente aos seus pais. Jesus tem inteligência de honra e autoridade e quer nos ensinar isso.
O resultado final é que Jesus crescia em tudo (crescia Jesus). Isso mostra como Jesus viveu como um homem, não usurpando o ser o próprio Deus. Não nasceu um super-homem, mas desenvolveu-se em tudo. Mesmo aos doze anos já ter uma estatura que impressionou os mestres rabinos, ainda tinha necessidade de crescer e se desenvolver. Isso mostra que existe um caminho que podemos crescer em tudo na nossa vida, assim como Jesus. Em rumo à estatura do varão perfeito, Jesus tem inteligência espiritual, intrapessoal, motora, espacial e tantas outras quantas as conhecidas. Como discípulos, temos tudo a aprender com Jesus.
Desde seus doze anos de idade, Jesus nos ensina a aprender e desenvolver todas as inteligências que recebemos do Pai. Podemos nos matricular nessa escola que não tem data de formatura. O caminho é feito na caminhada. Aprender a aprender é tão importante quanto o conteúdo que se aprende em si. Discípulos para sempre, assentados aos pés do Mestre: esse é quem somos.
Pr. Rodolfo Montosa