E assim José os consolou e lhes falou ao coração (Gênesis 50.21 – NAA).
Relacionamentos interpessoais são desafiadores. Quer seja no ambiente da família, escola, trabalho, igreja, vizinhança, ou qualquer outro, a dinâmica das relações entre as pessoas pode se tornar muito complicada. Não foi diferente na casa de Israel, entre José e seus dez irmãos mais velhos. Apesar de a história mostrar a crueldade dos irmãos, veio a luz sobre José e o tornou instrumento de resgate do relacionamento que tinha sido dilacerado. Sem essa luz sobre José, a família de Israel teria sido desintegrada e não viraria a nação que superou milênios até os dias de hoje. Essa luz tornou o coração de José quebrantado, humilde e, finalmente, iluminado.
O coração quebrantado de José nasceu em sua longa história de revezes ao ter sido vendido pelos seus próprios irmãos como escravo e transformado em prisioneiro do palácio. Após treze anos, de maneira surpreendente, José é levado à posição do homem mais poderoso da nação mais poderosa daquela época. Mesmo assim, seu coração manteve-se quebrantado. Isso pode ser percebido em sete episódios, narrados no livro de Gênesis, que mostram José em choro quando era o grande governador: quando reconheceu seus irmãos (42.24); quando viu seu irmão mais novo Benjamim (43.30); quando se deu a conhecer a seus irmãos (45.2); ao beijar e abraçar todos os seus irmãos (45.15); no reencontro com seu pai (46.29); na morte do seu pai (50.1); diante da desconfiança de seus irmãos (50.17). Nem os tempos de fraqueza produziram coração revoltado, nem os tempos de poder coração vingativo.
O coração humilde de José pode ser percebido em quatro circunstâncias quando ele dá glória a Deus: diante dos companheiros de prisão quando declarou não pertencem a Deus as interpretações? (40.8); diante do elogio de Faraó, quando respondeu não está em mim; mas Deus dará resposta favorável a Faraó (41.16); diante da revelação de seus irmãos traidores e, ali, amedrontados, quando revelou foi para a preservação da vida que Deus me enviou adiante de vocês (45.5); após a morte de seu pai continua dizendo a versão de sua história que Deus o tornou em bem (50.20). Em nenhum momento trouxe a glória a si, mas somente a Deus.
O coração iluminado de José fez com que tivesse perspectiva diametralmente oposta à dos seus irmãos. Três momentos deixam claro isso: sua perspectiva inocente ao compartilhar seus sonhos (37.5 – José teve um sonho; 37.9 José teve outro sonho) encontrou uma perspectiva invejosa de seus irmãos (37.5 – por isso, o odiaram ainda mais); sua perspectiva altruísta (50.21 – Portanto, não tenham medo; eu sustentarei vocês e os seus filhos. E assim José os consolou e lhes falou ao coração) foi contrária à perspectiva egoísta de seus irmãos (37.18 – conspiraram contra ele para o matar); sua perspectiva divina (45.5 – Agora, pois, não fiquem tristes nem irritados contra vocês mesmos por terem me vendido para cá, porque foi para a preservação da vida que Deus me enviou adiante de vocês) tinha ângulo avesso à perspectiva humana dos irmãos (50.15 – É possível que José tenha ódio de nós; certamente nos retribuirá todo o mal que lhe fizemos). Sua narrativa foi libertadora para si e para toda a família.
A história de José é uma ilustração da história de Jesus no aspecto da humilhação e honra, tentação e integridade, perdão e reconciliação, escassez e provisão. Foi um homem cheio da presença de Deus que soube tratar assuntos complicados da vida familiar com sabedoria e amor. Inspira todo aquele chamado por Cristo a viver em plenitude no Espírito Santo.
Pr. Rodolfo Montosa