‘Encontrei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração; ele fará tudo o que for da minha vontade’. Tendo, pois, Davi servido ao propósito de Deus em sua geração, adormeceu […] (Atos 13.22, 36  – NVI)

Apesar de “legado” e “herança” serem termos relacionados, possuem significados distintos. O legado refere-se ao conjunto de realizações, ensinamentos, valores, tradições e contribuições deixado por uma pessoa para as gerações futuras. É o impacto duradouro que alguém deixa para trás, seja por meio de suas realizações profissionais, criações artísticas, avanços científicos, ações filantrópicas, seja por qualquer outra forma de influência positiva. O legado é algo intangível e abrange o impacto e a influência que a pessoa teve na sociedade e na vida de outras pessoas. Já a herança está relacionada aos bens materiais, propriedades, dinheiro e outros ativos que são transmitidos a alguém após a morte de uma pessoa. É o patrimônio material que é passado para os herdeiros, seja por meio de testamento, seja pelas leis de sucessão. A herança envolve aspectos tangíveis, como propriedades, investimentos, contas bancárias, joias e outros bens que são transmitidos às gerações seguintes. Enquanto o legado é mais amplo e abrange o impacto e a influência deixados por uma pessoa, a herança refere-se especificamente aos bens materiais transmitidos. O legado pode ser algo intangível e duradouro, que afeta a sociedade e inspira outras pessoas, enquanto a herança está relacionada aos aspectos materiais e financeiros que são transmitidos aos herdeiros. Podemos resumir que herança é o que se deixa para os filhos ou herdeiros, e legado é o que se deixa nos filhos ou influenciados.

Na Bíblia, por exemplo, identificamos em Davi uma pessoa que deixou tanto uma herança muito especial para sua família e todo o povo de Israel, com as terras conquistadas e os inimigos derrotados, quanto deixou um legado bastante relevante, que até hoje influencia nossa sociedade. Muitos se lembram de Davi como o pequeno pastor que derrotou um gigante chamado Golias. Outros pensam em Davi como o sábio governante judeu que uniu as tribos de Israel em uma única nação. Outros, ainda, destacam Davi como um poderoso guerreiro, diplomata astuto e músico talentoso. De uma ou de outra forma, a Bíblia deixa claro que esse homem cumpriu o propósito de Deus, deixando amplo e santo legado que merece ser destacado.

O legado espiritual. Tu és o meu esconderijo; tu me preservas da tribulação e me cercas de alegres cantos de livramento (Salmos 32.7). Logo depois da grande vitória sobre o gigante, embora inicialmente impressionado com a habilidade de seu mais novo soldado, movido por ciúmes e inveja, Saul começa a perseguir Davi para o matar. Davi foi forçado a viver em fuga, muitas vezes passando semanas escondido na rede de cavernas ao redor do Mar Morto, mais conhecida como Caverna de Adulão (1 Samuel 22.1). Aqui foi o lugar onde fez as perguntas mais profundas da vida, encontrando as respostas no Senhor, em quem aprendeu a desenvolver confiança e esperança. Em meio a tantas incertezas e adversidades, manteve sempre ativa sua bússola interna que lhe direcionava ao verdadeiro norte, descobrindo a alegria mais profunda no relacionamento íntimo com o Pai Celestial. Parte do legado de sua fé e intimidade com o Senhor foram impressas no livro de Salmos.

O legado comunitário. Da idade de trinta anos era Davi quando começou a reinar; e reinou quarenta anos. E Davi se ia cada vez mais aumentando e crescendo, porque o Senhor, Deus dos Exércitos, era com ele (2 Samuel 5.4, 10 – ARC). Uma vez unificado o reino (2 Samuel 5.3), Davi, sem demora, marcha para Jerusalém e dá início a suas conquistas militares. O resultado foi um reino consolidado e reconhecido internacionalmente, com um exército organizado e habilitado à batalha (1 Crônicas 18.14-17; 27.32-34). Davi foi hábil na organização dos detalhes do reino (1 Crônicas 27.25-31). O reino de Israel se tornou forte e respeitado tendo Davi como seu rei. O segredo de todo esse êxito foi a presença de Deus em sua vida (1 Samuel 16.18). Quando o Senhor está no controle, tudo vai bem.

O legado familiar. Tu, meu filho Salomão, conhece o Deus de teu pai e serve-o de coração íntegro e alma voluntária (1 Crônicas 28.9). Davi pecou e sua família desestruturou-se completamente. As consequências foram terríveis: o filho da relação pecaminosa entre Davi e Bate-Seba morreu (2 Samuel 12.18); seu filho Amnon violentou sua filha Tamar (2 Samuel 13.1-14) e foi morto pelo irmão Absalão (2 Samuel 13.23-32), o qual passou a perseguir Davi, com o intuito de tomar seu reinado (2 Samuel 15), fazendo coisas horríveis publicamente para envergonhar seu pai (2 Samuel 16.22). Davi chorou amargamente quando Absalão foi morto (2 Samuel 18.9-33). Contudo, onde foi seu maior pecado, ali também foi seu maior arrependimento e confissão (2 Samuel 12.13; Salmos 51). Salomão foi o filho do resgate de sua paternidade. Suas últimas palavras para seu filho Salomão não foram para ensinar como conquistar reinos e ter poder. Seu maior legado deixado à família remanescente foi para que conhecesse seu Deus. Isso lhe seria suficiente. O resgate de Deus na vida de Davi foi tão grande que o título “filho de Davi” tornou-se nobre no meio do povo. Isso acompanhou as gerações seguintes até chegar ao descendente chamado Jesus, conhecido pelo povo como “Filho de Davi” (Mateus 12.23; 15.22; 20.30; 21.9; 22.42).

Deus não faz nada por acaso. Ao contrário, todas as suas obras são perfeitas, têm propósito claro, significado relevante, desígnios que não podem ser frustrados. Não é diferente para nossa vida. Assim como usou a Davi, ele nos fez para cumprir um propósito e quer nos usar para deixarmos um legado. Como seremos lembrados pelas gerações futuras?